sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Iracema, Iracema. De José de Alencar. É a fundação do Ceará.
Era so o que minha cabeça conseguia processar durante o caminho até o pedaço de areia sobre a abóbada celeste na noite em que um ano toma o lugar do outro. Uma carona com um tio morador da cidade garantiu-nos a chegada ao menos perto de onde estariam mais 1 milhão de pessoas para assistir ao mesmo espetáculo que nós. Mas não da mesma forma, com a mesma percepção, mesma atenção ou objetivos. Eu nunca havia tido essa experiência assim como mãe, mas pai já esnobava. Éramos três sentados sobre a areia nada branca da praia em meio à multidão agoniada. E chegamos duas horas antes do marcado para o começo, para tanto nada melhor que um pouco d'água, um sorvete e uma longa conversa sobre percepção, comportamento, expectativas, relacionamento e História. O que se passava ali, bom ou não, compreensível ou prolixo, ocorria pela primeira vez em todos os aspectos. Era a primeira viagem ao Nordeste a que B não comparecia, era também a primeira vez que mãe se permitia conversar assuntos-tabu e era a primeira vez que eu fotografava as personagens cores em preto e branco, com a Praktica ISO 400 muita luz e muita esperança de dar certo. O resultado foi muita conversa boa, não tantas fotos quanto o esperado, acrofobia como já calculado, mas um sorriso no rosto por ver de perto aquilo que repudiava sem ter conhecimento. Seja por ignorância ou por ignorância. Foi um aprendizado de convívio com o dantes esquisito e um exercício de alteridade baseado no respeito e no convívio lado a lado, ainda que não houvesse concordância. Flores n'água, ritos (por vezes inconscientes), embriaguez (desnecessária), arruaça e tantos outros; fiz ressalvas por justamente discordar, mas tenho de aprender a tolerar, a respeitar. O que combato é o fato de se tornar algo mecânico, irracional e inconseqüente muitas vezes.
A trilla sonora era Explosions in te sky, por amiss óbvio, era isso que tocava em minha cabeça. E o roteiro literário era o velho livro sem nomes próprios. Eu me perguntava: imagina se depois de 16 min toda essa horda cegasse? Se depois de todo o espetáculo todos perdessem a visão? Já o são cegos por escolha, onde rumam à maré numa maré de gente que cumpre um ritual por vezes insincero para retornarem trôpegos aos seus lares e assim finalmente cerrarem os olhos. Já é uma cegueira por falta de esclarecimento, na maioria dos casos. Não em todo esse milhão de pessoas. Mas deve ser mais fácil apenas aceitar e cumprir do que entender antes de agir, certo? Agir conforme o que é tido por costume ao invés de se perguntar por quê. Fui lá para isso. Por que flores? Por que multidão? Por que agitação? Por que fogos? Por que revéillon?
Acho que no fim é tudo uma questão de ver beleza e de sentir prazer, por mais efêmero que seja. E no novo começo, tudo de novo no novo.