segunda-feira, 22 de abril de 2013

a língua do homem

Hoje, no ônibus para a Ibiti, como de praxe, fui lendo Liberdade, do Johnatan Franzen. O romance mostra as vidas de uma família, os Berglund, em diversos âmbitos e (principalmente) as vicissitudes particulares de cada membro. O pai da família é um ambientalista e feminista convicto e seu retrato no livro é sempre decorado com a afã de um ativista que não quis se resignar, como dizem ser o destino de (quase) todo adulto. Acho o livro interessante por retratar os membros dessa família um a um, sem concentrar na figura de somente uma personagem e endeusá-la.
Esse livro me pôs a pensar, durante o trajeto que leva 40 minutos, no que é patriarcado. E refleti sempre observando aquilo em que tenho experiência, ou seja, minha família (pai, mãe, irmã, sobrinho) e meus parentes. Tivemos visita no final de semana, um primo e sua esposa que vieram do Ceará para conhecer Brasília. Ao retornar de sua breve estada aqui, enviaram uma mensagem de gratidão pelo Facebook somente no mural do perfil de meu pai, sem citar nenhuma outra pessoa. Bem, durante os últimos dias, todos e todas dedicamos tempo ao casal. Todos e todas realizamos atividades junto a ele e ela. E, por fim, a gratidão vem direcionada exclusivamente ao "pai da família". Apesar de raso, este exemplo é uma forma de eu confirmar a minha percepção das sutilezas do machismo cristalizado em nosso dia a dia. Durante as relações do dia a dia temos um modus operandi prático, para facilitar as interações com outras pessoas e nos comunicarmos. Porém com um olhar apurado e uma postura crítica diante destas pequenas ações, é possível enxergar o quanto somos submetidos e submetidas a esses valores centrados na figura do patriarca, do homem. Os anúncios de empresas que oferecem produtos de consumo de ambos os gêneros quase sempre enaltecem o interlocutor com adjetivos terminados com desinência masculina. Com um pouco de prática da alteridade, de tentar se colocar no lugar da outra, pode-se enxergar o quanto falamos a língua do homem.
Ainda ontem, algumas horas depois, estive presente em um culto de uma igreja presbiteriana chinesa, parte da pesquisa para meu Projeto Final. A palavra de Deus era ministrada por um jovem pastor brasileiro, e traduzida simultaneamente por uma senhora chinesa, a um público de 25 pessoas, de maioria chinesa. O pastor fazia referências ao sacrifício feito por Deus (João 3:16) e por vezes empossava-se da voz de Deus, interpretando e gesticulando como o pai de Cristo. Enfim, já fiz referências demais ao quanto o próprio Cristianismo está centrado na figura masculina, principalmente as vertentes protestantes que não consideram santa, nem dispensam idolatria a Maria. Mas o que achei curioso foi o fato de o pastor interpretar a voz de Deus direcionando-se sempre aos "seus filhos" ou simplesmente apontando um "venha a mim, filho". Em nenhum momento este filho era Cristo, mas sim a igreja ali presente, de maioria feminina. Não é de se surpreender o fato de que o mundo é machista, mesmo que simbolica ou sutilmente, mas tudo isso me intriga demais.
Enfim, vejo que além de uma postura crítica, além de enxergar todas essas incoerências, enxergo a necessidade de afirmar ações e postura feminista...melhor, despertar o respeito que há muito é relegado por meio da simples existência de instituições como o patriarcado ou sua expressão simbólica cotidiana. De um tempo para cá já não consigo suportar as piadas de cunho sexista, racista ou homofóbico que vez ou outra surgem às mesas de almoço dominicais. Se todas essas definições (sexismo, racismo, homofobia) existem para definir desrespeitos que ocorrem diariamente, não é porque exista uma postura "politicamente correta" que deva ser seguida, como ouvi num programa televisivo ontem. Mas sim porque ainda existem situações em que o respeito é desconsiderado e muitas vezes em âmbitos que a retitude deveria ser regra primeira, como o lar e a igreja.

sábado, 13 de abril de 2013

chagas de uma paixão

Alguma coisa acontece no meu coração
Não pode ser amor verdadeiro
Deve ser culpa do barbeiro
Que me picou o dedão

soledad

Tire essa pedra do caminho
que eu quero passar com o Drummond
Se hoje eu canto Nelson Cavaquinho
Porque sozinho estou como Byron

haikai do desapego

If there is nothing to be done
to undo what is done
then dane-se