quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

vida leve, vida breve
quem mira pouco, pouco deve
revira, volta, pensa e escreve

mergulhos

Hoje mergulhei no mar da Praia do Futuro com meu sobrinho Túlio nos braços. Alguns minutos antes o vi, da cadeira na areia, caminhar lentamente rumo ao mar sozinho. Essa imagem me trouxe à lembrança diversas tomadas que meu pai fez durante meus primeiros anos de vida em algumas praias desse Nordeste que há tantos anos frequente, mas ainda tão pouco conheço. Entrar no mar com ele nos braços foi uma das pequenas epifanias de hoje. Senti que a segurança dele era minha responsabilidade; a alegria dele, minha meta; a minha felicidade, uma surpresa. Em um determinado momento até o chamei de filho. Ato falho. Creio que todas as vezes que ouvi comentários a respeito de nossa semelhança física - e muitas vezes temperamental - aninharam-se em uma única palavra. São momentos como este que me mostram a responsabilidade que nós seres humanos devemos ter uma com o outro. No man is an island, right? Túlio me lembra o quanto preciso amadurecer e ser forte para que ele, bem como cada uma das pessoas que amo, cresça em plenas condições. Não sou o pai dele, naturalmente eu sei disso, mas a cada dia observo o respeito que ele tem comigo e ao contrário de meu modus operandi eu não retruco com modéstia. E é essa mesma modéstia que tem me tolhido diversas oportunidades na vida, pois ela se mascara como tal, mas age como insegurança e auto-comiseração. Malditos sentimentos, puramente falta de auto-respeito.
Mais tarde no dia me peguei a conversar com um primo de segundo grau - destes que são 30 anos mais velhos que eu, particularidades da minha família - que é técnico em eletrônica sobre a dificuldade que tive para encontrar baterias para o fotômetro da Yashica TL-Electro que meu pai me deu na década de 1990 e para a qual já não há mais baterias disponíveis no mercado. Comentei que eu conseguira as duas baterias LR52 na Santa Ifigênia (ou na Teodoro Sampaio, já não me lembro mais), em São Paulo. E ele, curioso, me perguntou se eu viajava com frequência para SP. Pude ver na pergunta dele concentrados um pouco de surpresa e um tanto de desejo de estar no meu lugar. Ao que respondi com a negativa ele apenas me deu a impressão de se desfazer do primeiro sentimento. Um dos crânios da família, meu primo - ao que se conta no folclore familiar - teve bastantes aprovações em universidades federais durante sua juventude, em engenharia elétrica e matemática. No entanto nunca se formou em nenhum curso superior. Hoje vive sob o assombro do recente falecimento do pai e o receio causado pelo avanço da senilidade da mãe, recém-viúva já nos 80 e tantos anos. Coloquei-me no lugar dele e pude enxergar o quanto as dificuldades que ele enfrenta são mais profundas que as minhas.
Vivo constantemente me pondo no lugar dos outros/das outras. Mas acho que já me questionei demais para não saber qual é o meu lugar e qual é minha missão. Essa viagem (para dentro) tem me feito bem por me desencantar de um universo e me mostrar qual é o meu mundo.