quinta-feira, 11 de setembro de 2014

11.6.14
0h30

prolongo demais
não sei fazer HQ
nem mesmo haicais
Disse-me que me amaria com todas as letras,
todas as vinte e seis
Quero ver amor assim permanecer verdadeiro
se for amado em chinês

domingo, 17 de agosto de 2014

já não me lembro sobre o que queria escrever, mas sei que o simples fato de começar a escrever já me fará melhor ao cabo deste ato. era algo que minha irmã frequentemente fala, com muita razão, sobre quando um indivíduo se define a partir das opiniões que ouve e dos apontamentos que outros fazem. o indivíduo passa a se comportar então como uma esponja que tudo absorve e retém e se torna pesado demais, comportando algo que não deveria. muitas vezes me pego pensando nessa imagem e me imagino nessas circunstâncias, ou quando me deixo impressionar por diagnósticos médicos específicos (e. g. a recente descoberta do agravamento do meu desvio de septo nasal) e como relaciono isto com circunstâncias aleatórias (e. g. indisposição para pedalar – provavelmente causada por sedentarismo e a seca atual do centro-oeste) fazendo ambas coisas terem relação para, por fim, eu achar que estou doente ou vou ficar mal. esta paranoia e a "síndrome do impostor" – além dessa constante necessidade de achar que eu sofro de algum mal – certamente têm me tolhido energias e tempo que poderiam ser mais bem empregados nesta vida. esta mesma "vida que é um sopro" (O.N.)  – e que, sim, pode acabar a qualquer instante, mas que não devemos pensar na possibilidade do fim dela a todo instante. acho que me falta realmente me confortar com a noção da finitude da vida e enfim aproveitar um dia após o outro. "Seize the day".

terça-feira, 6 de maio de 2014

tudo passa


mas você fala as coisas? perguntou-me a mina que pouco antes questionou-me se eu não vivia em uma realidade paralela. pensar que decerto a segunda pergunta feita por ela é uma questão chave sobre minha relação com os mais próximos. ela mesmo nunca esteve próxima de mim, nunca me foi íntima apesar de já ter se deitado ao meu lado. mas a pressão interna que existe por não achar que vão me acompanhar no raciocínio ou na vontade de solucionar um problema são fatores que tapam minha cabeça com uma mão, assim como os irmãos mais velhos fazem com os caçulas para deixar estes irritados diante de sua impotência frente alguém maior. choquei o carro de minha família contra o fiesta de um senhor de idade. nada sério aconteceu, já que estávamos contornando um balão congestionado e a baixa velocidade. no entanto o senhor insistiu que precisaria de meus contatos e que eu sugerisse uma oficina para avaliarmos o custo do desnecessário reparo. como sou traumatizado com acidentes automobilísticos por conta de um grande acidente em que me envolvi junto com meu pai uns três anos atrás, quaisquer circunstâncias que anunciem a iminência do choque ou mesmo um choque estúpido como o de hoje já são suficientes para me fazer tremer as mãos, palpitar o coração e recair o maior dos problemas que enfrento desde sempre: a culpa. voltei para casa com uma sensação de culpa que me guiava a pensamentos como "minha mãe vai surtar" mesmo sendo um estrago ínfimo (apesar de ter sido um choque, apenas houve dois arranhões que, juntos, têm o tamanho de uma tampa de caneta bic.
não me sinto parte de nenhum grupo. engraçada aquela frase de groucho marx que diz "eu não faria parte de nenhum grupo que me aceitasse como membro", mas é bem como me sinto. tragicomicamente solitário por conta própria, fazendo graça da própria (falta de) sorte.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

vida leve, vida breve
quem mira pouco, pouco deve
revira, volta, pensa e escreve

mergulhos

Hoje mergulhei no mar da Praia do Futuro com meu sobrinho Túlio nos braços. Alguns minutos antes o vi, da cadeira na areia, caminhar lentamente rumo ao mar sozinho. Essa imagem me trouxe à lembrança diversas tomadas que meu pai fez durante meus primeiros anos de vida em algumas praias desse Nordeste que há tantos anos frequente, mas ainda tão pouco conheço. Entrar no mar com ele nos braços foi uma das pequenas epifanias de hoje. Senti que a segurança dele era minha responsabilidade; a alegria dele, minha meta; a minha felicidade, uma surpresa. Em um determinado momento até o chamei de filho. Ato falho. Creio que todas as vezes que ouvi comentários a respeito de nossa semelhança física - e muitas vezes temperamental - aninharam-se em uma única palavra. São momentos como este que me mostram a responsabilidade que nós seres humanos devemos ter uma com o outro. No man is an island, right? Túlio me lembra o quanto preciso amadurecer e ser forte para que ele, bem como cada uma das pessoas que amo, cresça em plenas condições. Não sou o pai dele, naturalmente eu sei disso, mas a cada dia observo o respeito que ele tem comigo e ao contrário de meu modus operandi eu não retruco com modéstia. E é essa mesma modéstia que tem me tolhido diversas oportunidades na vida, pois ela se mascara como tal, mas age como insegurança e auto-comiseração. Malditos sentimentos, puramente falta de auto-respeito.
Mais tarde no dia me peguei a conversar com um primo de segundo grau - destes que são 30 anos mais velhos que eu, particularidades da minha família - que é técnico em eletrônica sobre a dificuldade que tive para encontrar baterias para o fotômetro da Yashica TL-Electro que meu pai me deu na década de 1990 e para a qual já não há mais baterias disponíveis no mercado. Comentei que eu conseguira as duas baterias LR52 na Santa Ifigênia (ou na Teodoro Sampaio, já não me lembro mais), em São Paulo. E ele, curioso, me perguntou se eu viajava com frequência para SP. Pude ver na pergunta dele concentrados um pouco de surpresa e um tanto de desejo de estar no meu lugar. Ao que respondi com a negativa ele apenas me deu a impressão de se desfazer do primeiro sentimento. Um dos crânios da família, meu primo - ao que se conta no folclore familiar - teve bastantes aprovações em universidades federais durante sua juventude, em engenharia elétrica e matemática. No entanto nunca se formou em nenhum curso superior. Hoje vive sob o assombro do recente falecimento do pai e o receio causado pelo avanço da senilidade da mãe, recém-viúva já nos 80 e tantos anos. Coloquei-me no lugar dele e pude enxergar o quanto as dificuldades que ele enfrenta são mais profundas que as minhas.
Vivo constantemente me pondo no lugar dos outros/das outras. Mas acho que já me questionei demais para não saber qual é o meu lugar e qual é minha missão. Essa viagem (para dentro) tem me feito bem por me desencantar de um universo e me mostrar qual é o meu mundo.