sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Devaneios

"'Tomara que chova enquanto eu estiver lá.' Pensei. E assim se fez. Não bastasse eu me sentir na mesma situação que há uns sete anos, ainda tuve de encarar novos problemas que afetaram meu sobrinho e ,diretamente, a todos os outros. A chuva não só aliviou o calor infernal que assolava a cidade naquela tarde, mas melhorou (um pouco) minha estada. Agora, rever as mesmas faltas de educação dos visitantes, as mesmas saídas para o Centro barulhento e as mais frequentes feiuras (e viva a Reforma Ortográfica!).

Fui ao clube com a família e me incumbi de vigiar nossos pertences enquanto eles se banhavam e aproveitavam o pouco do sol. Durante a ausência deles, lia Crime e Castigo e, simultaneamente, o céu se fechava e ventava fortemente. Com isso, aquela horda desesperada passava à minha frente procurando um teto, ainda havendo mormaço. Raskólhnikov se dissimulando e aquela manada estourando. E no clube a única água que tocou meu corpo foi a da chuva. E com os ventos fortes e nuvens escuras tomando o lugar do mormaço a massa bateu em retirada pra debaixo de um local fechado. Bestializados e ofegantes. Por que em massa boa parte de nós se comporta de forma animalesca? Seja em situação de desespero em que todo mundo tenta se safar de um malgrado ou quando tomados por adrenalina ou endorfina excessivas saem batendo em garçons ou queimando índios. Nelson Rodrigues me permita o empréstimo e a adaptação, mas, sim, toda unanimidade é burra.

E, na contramão, por que quase toda individualidade é acompanhada de incompreensão? As particularidades de alguns indivíduos em excesso às vezes sufocam, mas por que existe o costume de refutá-las antes de vê-las corretamente? Eu não aguentaria viver imerso em burrice sem razão, mas me imaginar recluso entre 'quatro pensamentos' também me aflige. A exemplo de agora: estou complementando devaneios, três dias após iniciados à beira de uma piscina. E agora estou numa sala diante de um televisor emudecido enquanto seis ou sete parentes estão a cômodos de distância a contar seus casos passados. Esse tanto de pergunta é basicamente por causa disto: eu insistir na distância, em alguns momentos. Às vezes me falta um bocado de aproximação (comedida, claro). Mas não será diante de um bloco de notas ( de celulose ou de pixels, qual seja) que eu conseguirei isso..."

Texto iniciado em 18/jan à beira de uma piscina e complementado em 21/jan à frente de uma tevê.

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