domingo, 15 de fevereiro de 2009

"A incerteza. A dúvida. É aquilo que a chuva não conseguiu lavar e meus olhos, ainda embaçados, tentam precisar. Mas Capitu não é fictícia. Vive no meu dia a dia. Vive me pondo à beira do parapeito. Melhor, ela é o além-parapeito que me dá vertigem. A vontade suicida e descomedida de me jogar para gozar do breve da imponderabilidade. A leveza."
E os passantes olham estupefatos o desvairado a se pôr mais uma vez à queda. Já nem o aconselham mais. Nem mesmo o advertem do que vem depois. Ele é livre para se jogar. É livre para se sentir leve. Os passantes não compreendem as razões dele, embora nem mesmo ele saiba se elas existem.
Eram ele e a distância. Só havia sintonia entre esses dois, pois Capitolina não estava na mesma frequência que ele. E nunca esteve. Por um momento ele cerrou os olhos e imaginou-se de mão dada à dela durante a queda. E viu que não havia mais harmonia. Quis desistir do salto, mas sabia que o chão o atraía de uma forma impactante que seus pés juntos nunca o proporcionariam. Ele queria a instabilidade, não a segurança na constância.
Já se vendo posto à entrega, cabeça a prumo, corpo inclinado e pés envergados, olhos brilhantes e mente imaginativa... Caiu.
Visão embaçada, razão extinta, olhos abertos e mãos nuas encontraram solitariamente o concreto quente e rígido.

Um comentário:

  1. "era a realidade que agora latejava em cada osso do seu corpo. Era dor, mas não a dor da queda, dor de estar só."

    Lindo texto alê! e esse trecho que eu escrevi é uma humilde interpretação!
    bjus, LÔ

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