domingo, 17 de dezembro de 2017

L,

todos os meus amigos – ou pelo menos a maioria daqueles a quem contei sobre você – me deram o mesmo conselho. Mas temo que vou desconsiderar e te escrevo essa carta. não espero que ela tenha qualquer influência sobre você, mas acredito que ela surte efeito ainda maior dentro de mim. faço isso por mim única e exclusivamente, ainda que ela esteja endereçada a você.

quero tirar um peso das minhas costas semelhante àquele carregado por atlas. engraçado é que em ambas histórias há um mínimo de paralelo com a realidade dos fatos. esse peso quem colocou nas minhas costas fui eu. é o peso de todo o afeto retido, guardado e negado que eu guardei para você sem saber que, no fim das contas, você não o queria. e como todo fardo, tornou-se mais pesado conforme o tempo e o sentido de tudo passou. hoje preciso me livrar dele e é por isso que escrevo.

como em todas as outras vezes em que me aventurei com paixões inesperadas, me joguei de cabeça sem saber o que viria depois dali. mas o que acabei vendo foi uma imagem refletida e distorcida de mim mesmo, as minhas expectativas que reluziam sobre um espelho d'água tão profundo quanto aquilo que construímos em tão pouco tempo. porém não se engane. esse mergulho foi suficiente para eu me afogar nas projeções que criei do que teria com você, do que achei que tínhamos. mais uma vez falhei comigo mesmo na promessa de ser mais comedido, seguro e calmo. mais uma vez me deixei levar por uma imagem irreal de um relacionamento ou seja lá o que havia entre nós.

emprego a primeira pessoa do plural por incerteza se ainda terei de volta aquele marca páginas que lhe disse me ser bastante especial. penso em te pedir que deixe na portaria do seu novo prédio, o qual tenho certeza que jamais conhecerei. mas nem sei se você já se mudou, se vai se mudar ou seja lá o que planeja para os próximos meses. engraçado também empregar o plural para o tempo, tão singular e simples para o um mês de contato que tive com você. (já começo a me despedir também da palavra "nós"). quanto ao livro, pode ficar com ele. apesar de não tê-lo terminado, acredito que li o bastante para saber que thoreau há de te falar algo interessante. não tenho qualquer pretensão de ser marcante com um ato final, mas senti do fundo do meu coração – que tanto sente – que deveria dá-lo a você. afinal, estamos próximos do natal e não quero começar um novo ano com pendências e/ou situações mal resolvidas.

eu sei que essas palavras jamais chegarão aos seus olhos ou sequer terei a oportunidade de proferi-las aos seus ouvidos, mas espero que você saiba que, como todas as outras, eu te quis muito bem. quis te fazer bem e quis ser melhor para você. mas já passou da hora de eu ser melhor para mim, de querer o meu bem e querer me fazer bem. espero que estas palavras me encontrem em situação mais agradável no futuro . e aguardo pelo dia em que esse nó na garganta ou esse calor que eu sinto toda vez que me imaginei com você cessem assim como o que tive contigo: rápida e despretensiosamente.

adeus

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