quinta-feira, 12 de abril de 2012

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Coincidências não são fruto do acaso. Elas são tão somente nós de uma rede enorme formada pelos encontros de várias linhas de tempo. Sounds very lame, but the strings stuck together make a web.
Pois não é por acaso que eu fecho a porta do apartamento onde moro, no último andar do prédio 65 de Unterhof às 9h30 da manhã e na parede do outro lado do corredor, sob a sombra de seu véu, uma turca realiza o mesmo ritual matinal que eu. E, em meio a um sorriso, retribui sonoramente o Guten Morgen que lhe havia sido lançado. Foi somente o primeiro dia, mas se desenhava como todos os outros a se repetirem. Mesmo portal a ser passado, mesmo elevador a ser pegado. Assim como o ônibus número dez.
Pouco depois de encontrar a sala de aula, me sento à espera da professora e me surpreendo mais uma vez naquele dia, por algum arranjo das circunstâncias, Archie, o estadunidense que havia conhecido no dia em que concluí minha matrícula e que havia passado 2 meses fazendo pesquisa de campo no Pará, iria frequentar aquela aula. Conversamos um pouco, começa a aula. Descubro que ele também mora em Unerhof, divide um doppelappartement com uma conterrânea com a qual ele não conversa. Fim de aula, despeço-me. See you later.
Vou almoçar no restaurante universitário sem a companhia da Nathália. Por acaso o Thomas Patterson e sua mais nova colega Anna já estavam na fila. Subiram para que eu os encontrasse depois. Schnitzel com spaghetti e uma salada de cenoura e maçãs que eu escolhi. Estranhamente doce, mas alguma surpresa findaria não sendo das melhores. Me chamaram para uma audição para um coral, 20 minutos depois da refeição, às 13h. A princípio achei que seria algo grande, como o coral natalino da UnB. Mas por fim me deparei com um coral de oito pessoas em que em declarei barítono mas findei sendo baixo. "A bass is a type of male singing voice and possesses the lowest vocal range of all voice types"… Já era alguma coisa para alguém que estava em um coral em que (quase) todas as instruções eram passadas em alemão. Mímese para sobreviver. O inglês me salvava, mesmo quando Anna insistia em falar rapidamente para provar que para estrangeiros era realmente complicado entender tudo o que era dito. Ela mesma não sabe Português, mas disse-me que seu roomate tinha alguma noção. Poucas perguntas depois descubro que ela mora em Unterhof e divide apartamento com ninguém menos que Archie, o fellow estadunidense
que tinha suas noções de português por ter pisado em solo nortense. Olha lá.
Passado o teste me deparei com outro arranjo do destino. Uma disciplina que seria de grande ajuda para minha monografia e, basicamente trata das candidaturas de Mitt Romney e de Barack Obama analisando-os em suas biografias, como estrelas políticas. Ponto para meu projeto cambota. Ao voltar para casa, lá está Archie no mesmo ônibus que eu. Voltamos o caminho comentando sobre trivialidades acadêmicas e na frente do meu prédio, perto da entrada do dele, Anna passa por nós e cumprimenta ambos com um comedido menear de cabeça e um sorriso de Gioconda. Ao menos serviu para desembolar o meio de campo.
Subo para casa, fecho a porta do apartamento, seguro a porta do portal para a turca passar. "Danke shcön", "bitte schön" trocamos. Ela fecha a porta dela com outro sorriso. Eu fecho a minha com meu sorriso. Fim de mais um dia e assim se encerra o ritual de além-portas.
Tchüss.

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